A Ciência demonstra a impossibilidade da
ressurreição segundo a ideia vulgar. Se os despojos do corpo humano
permanecessem homogêneos, embora dispersados e reduzidos a pó, ainda se
conceberia a sua reunião em determinado tempo; mas as coisas não se passam
assim. O corpo é formado por elementos diversos: oxigênio, hidrogênio, azoto,
carbono etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas vão servir à
formação de novos corpos, e isso de tal maneira que a mesma molécula, por exemplo,
de carbono, entrará na composição de muitos milhares de corpos diferentes (não
falamos senão dos corpos humanos, sem contar os dos animais). Dessa maneira, um
indivíduo pode ter em seu corpo moléculas que pertenceram aos homens dos
primeiros tempos. E essas mesmas moléculas orgânicas que absorveis dos vossos
alimentos provêm talvez do corpo de um indivíduo que conhecestes, e assim por
diante. Sendo a matéria de quantidade definida e suas transformações em número
indefinido como poderia cada um desses corpos reconstituir-se com seus mesmos
elementos? Há nisso uma impossibilidade material. Não se pode, portanto,
racionalmente admitir a ressurreição da carne, senão como um figura
simbolizando o fenômeno da reencarnação. E então nada há que choque a razão,
nada que esteja em contradição com os dados da Ciência. É verdade que segundo o
dogma essa ressurreição não deve ocorrer senão no fim dos tempos, enquanto
segundo a doutrina espírita ocorre todos os dias. Mas não há também nesse
quadro do julgamento final uma grande e bela figura que oculta, sob o véu da
alegoria, uma dessas verdades imutáveis que os céticos não rejeitarão quando
forem conduzidas à verdadeira significação? Que se medite bem a teoria espírita
sobre o futuro das almas e sobre a sua sorte, em conseqüência das diferentes
provas que devem sofrer, e se verá que, com exceção da simultaneidade, o
julgamento em que são condenadas ou absolvidas não é uma ficção como pensam os
incrédulos. Consideremos ainda que ela é a conseqüência natural da pluralidade
dos mundos, hoje perfeitamente admitida, enquanto, segundo a doutrina do
julgamento final, a Terra é considerada como o único mundo habitado. Comentário
de Kardec.
Colaboração: Maria Aparecida Giraldi Moro.
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