DESENCARNADOS EM TREVAS
Desencarnados em
trevas...
Insulados no remorso...
Detidos em amargas recordações...
Jungidos à trama dos próprios pensamentos atormentados...
***
Eram donos de palácios soberbos e sentem-se aferrolhados no
estreito espaço do túmulo.
Mostravam-se insensíveis, nos galarins do poder, e derramam o
pranto horizontal dos caídos.
Amontoavam haveres e agarram-se, agora, aos panos do esquife.
Possuíam rebanhos e pradarias e jazem num fosso de poucos
palmos.
Despejavam fardos de dor nos ombros sangrentos dos
semelhantes, e suportam, chorando,
os mármores do sepulcro, a lhes partirem os ossos.
Estagiavam ciência inútil e tremem perante o desconhecido.
Devoravam prazeres e gemem a sós.
Exibiam títulos destacados e soluçam no chão.
Brilhavam em salões engrinaldados de fantasias e arrastam-se,
estremunhados, ante as sombras da cova.
Oprimiam os fracos e não sabem fugir à gula dos vermes.
Eram campeões da beleza física, e procuram, debalde,
esconder-se nas próprias cinzas.
Repoltreavam-se em redes de ouro, e estiram-se, atarantados,
entre caixas de pó.
Emitiam discursos brilhantes e gaguejam agora.
Deitavam sapiência e estão loucos.
***
Nada disso, porém, acontece porque algo possuíssem, mas sim
porque foram possuídos de paixões desregradas.
Não se perturbam, porque algo tiveram , mas sim porque
retiveram isso ou aquilo, sem ajudar a ninguém.
Se podes verificar a tortura dos desencarnados em trevas,
aproveita a lição.
Não sofrerás pelo que tens, nem pelo que és.
Todos colheremos o fruto dos próprios atos, no que temos e
somos.
Onde estiveres, pois, faze o bem que puderes, sem apego a ti
mesmo.
Escuta o companheiro que torna do Além, aflito e
desorientado, e aprenderás, em silêncio, que todo egoísmo gera o culto da
morte.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Justiça Divina PELO ESPÍRITO EMMANUEL
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