terça-feira, 7 de junho de 2016

PENSAR ANTES DE REAGIR

Pensar antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres de quem decifra os mais altos níveis do código da autocrítica. Nos primeiros trinta segundos de tensão cometemos os maiores erros da nossa vida, dizemos palavras e temos gestos hostis e desagradáveis diante das pessoas que mais amamos. Neste curto intervalo de tempo somos controlados pelas zonas de conflitos que bloqueiam milhares de outras janelas, impedindo o acesso de informações que nos forneceriam serenidade, coerência intelectual e raciocínio crítico. Um intelectual pode dar uma conferência brilhante e responder a todas as perguntas efetuadas pela plateia com mestria, mas quando um colega de trabalho faz uma pergunta que o contraria pode perder a serenidade da resposta, ou seja, reagir sem elegância. Um médico pode ser muito paciente relativamente às queixas dos seus pacientes, mas ser muitíssimo impaciente no que diz respeito às reclamações dos seus filhos. Por conseguinte, este sujeito pensa antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de quem ama. Não sabe fazer a oração dos sábios durante os focos de tensão, isto é, o silêncio. Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados e injustiçados. Se vivermos sob a ditadura da resposta, da necessidade compulsiva de reagir quando somos pressionados, cometeremos erros, e alguns deles poderão ser graves. Vivemos numa sociedade ruidosa, que normalmente detesta o silêncio. Cada vez mais as pessoas vão perdendo o prazer de estar em silêncio, de praticar a interiorização, de refletir e de meditar. O ditado popular de contar até dez antes de reagir é imaturo, não funciona. Aquilo que proponho é o silêncio filosófico. O silêncio não é sinónimo de aguentar calado para não explodir, o silêncio significa o respeito pela própria inteligência, pela própria liberdade, a liberdade de se obrigar a reagir em situações de stress. Quem faz a oração dos sábios não é escravo do binómio bater-apanhar. Quem bate no peito e diz que não gosta de ser criticado, não decifrou o código de pensar nas consequências dos seus actos. Quem se orgulha de dizer tudo o que pensa, magoa quem deveria ser amado e, portanto, não decifrou a linguagem do autocontrolo. Não existem relações perfeitas. Não existem almas gémeas, pessoas que tenham os mesmos gostos, os mesmos pensamentos e opiniões iguais em todas em todas as situações, a não ser em filmes. As decepções fazem parte do cardápio das melhores relações. Nesse cardápio necessitamos do tempero do silêncio para preparar o molho da tolerância. Para convivermos com máquinas não precisamos de silêncio nem de tolerância, mas para vivermos com seres humanos estes são fundamentais. Ambos são frutos nobres do código da autocrítica e do código da capacidade de pensar antes de reagir, que preservam a saúde psíquica, a consciência e a tranquilidade. O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, as reações impulsivas são a bebedeira dos fracos. O silêncio e a tolerância são as armas de quem pensa, as reações instintivas são as armas de quem não pensa. É muito melhor ser-se lento a pensar do que rápido a magoar. É preferível conviver com uma pessoa simples, sem cultura académica, mas tolerante do que com um ser humano possuidor de uma irrefutável cultura, mas saturada de radicalismo, egocentrismo e estrelato. A sabedoria e a autocrítica não se aprendem nos bancos da escola, mas no traçado da existência.


 (Augusto Cury)


Colaborador: Eddie Gomes 

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