O ciclo do Amor de
Deus
O ciclo do Amor de Deus pode comparar-se ao
ciclo da água. A idéia não é original, pois já Isaías profetizara que assim
"como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam sem terem regado
a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e
pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não torna
a mim sem fruto, antes ela cumpre a minha vontade e a missão para a qual a
enviei" (Is 55,10-11). O Amor de Deus, manifesto na Palavra encarnada,
Jesus Cristo, tem pois um ciclo semelhante ao da água. E podemos ver nele
aspectos particulares relacionados com o Sacramento da Reconciliação.
Poderíamos esquematizar assim o ciclo do Amor de Deus: 1º - Jesus desceu a
terra fazendo-se Homem, encarnando no seio da Virgem Maria pela Graça do
Espírito Santo. 2º - A Sua Presença entre nós foi fecunda, falando-nos do Pai,
mostrando-nos o Reino de Deus. 3º - Na Cruz, Jesus assumiu dum modo radical o
Seu mais eloqüente ensinamento: "Amai-vos como Eu Vos amo" e iniciou
logo ali o Seu papel redentor e intercessor, quando disse: "Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!" 4º - Cristo ressuscitou,
venceu a morte, e subiu para junto do Pai. Cumpriu a Sua Vontade. Porém o Ciclo
do Amor não termina aqui; prossegue até ao fim dos tempos. Cristo continua a
pedir permanentemente ao Pai:"Pai perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem" e diz mais "Perdoa-lhes porque Eu os amo, sofri e morri por
eles". Este é o ciclo do Amor de Deus: O Pai ofereceu-nos o Filho para intercessão
dos nossos pecados; o Filho obedeceu e apresenta esse Sacrifício, pedindo
perdão por nós, pedindo a nossa salvação. Cristo torna-se assim o motivo do
nosso perdão junto do Pai: é o cerne da Reconciliação. Não faz o papel do irmão
fiel na parábola do filho pródigo. Não, Cristo pede ao Pai para nos dar todo o
Seu Amor, todo o seu Perdão. Devemos, pois, encarar a Reconciliação como um
voltar os olhos para a Face de Cristo: um olhar reconciliador, um pedido de
desculpas, um pedido de ajuda ao Espírito Santo. Basta um olhar de
arrependimento das falhas de amor para com os outros, e Cristo fará o resto. O
Padre tem poderes para representar Cristo e dá-nos o Sacramento, uma força para
a mudança de vida e nossa santificação. Mas esta mudança de vida gira não só à
volta da nossa reconciliação com Deus mas, também, à volta da nossa
reconciliação com os outros e da reconciliação com nós mesmos. O Pai perdoa na
medida em que perdoarmos, foi o que Cristo nos ensinou. Esta é a abrangência do
sacramento da Reconciliação, que não se extingue no confessionário, mas se
estende para as nossas vidas. É que o ciclo do Amor de Deus não é exclusivo
para Jesus Cristo! Temos que assumir em nós esta vivência, a vivência do
próprio Cristo. Só assim, perdoados e perdoando, seremos outros Cristos!
Eddie Gomes
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