Mundos Regeneradores
SANTO AGOSTINHO
Paris, 1862
Entre essas estrelas
que cintilam na abóbada azulada, quantas delas são mundos, como o vosso,
designados pelo Senhor para expiação e provas! Mas há também entre elas mundos
mais infelizes e melhores, como há mundos transitórios, que podemos chamar de
regeneradores. Cada turbilhão planetário, girando no espaço em torno de um
centro comum, arrasta consigo mundos primitivos, de provas, de regeneração e de
felicidade. Já ouvistes falar desses mundos em que a alma nascente é colocada,
ainda ignorante do bem e do mal, para que possa marchar em direção a Deus,
senhora de si mesma, na posse do seu livre-arbítrio. Já ouvistes falar das
amplas faculdades de que a alma foi dotada, para praticar o bem. Mas ai!,
existem as que sucumbem! Então Deus, que não quer aniquilá-las, permite-lhes ir
a esses mundos em que, de encarnações em encarnações podem fazer-se novamente
dignas da glória a que foram destinadas. Os mundos regeneradores servem de
transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende,
neles encontra a paz e o descanso, acabando por se purificar. Sem dúvida, mesmo
nesses mundos, o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A
humanidade experimenta as vossas sensações e os vossos desejos, mas está isenta
das paixões desordenadas que vos escravizam. Neles, não há mais o orgulho que
emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que os asfixia. A palavra
amor está escrita em todas as frontes; uma perfeita equidade regula as relações
sociais; todos manifestam a Deus e procuram elevar-se a Ele, seguindo as suas
leis. Nesses mundos, contudo, ainda não existe a perfeita felicidade, mas a
aurora da felicidade. O homem ainda é carnal, e por isso mesmo sujeito às
vicissitudes de que só estão isentos os seres completamente desmaterializados.
Ainda tem provas a sofrer, mas estas não se revestem das pungentes angústias da
expiação. Comparados à Terra, esses mundos são mais felizes, e muito de vós
gostariam de habitá-los, porque representa a calma após a tempestade, a
convalescença após uma doença cruel. Menos absorvido pelas coisas materiais, o
homem entrevê melhor o futuro do que vós, compreende que são outras as alegrias
prometidas pelo Senhor aos que tornam dignos, quando a morte ceifar novamente
os seus corpos, para lhes dar a verdadeira vida. É então que a alma liberta
poderá pairar sobre os horizontes. Não mais os sentidos materiais e grosseiros,
mas os sentidos de um períspirito puro e celeste, aspirando às emanações de
Deus, sob os aromas do amor e da caridade, que se expandem do seu seio. Mas,
ah!, nesses mundos o homem ainda é falível, e o Espírito do mal ainda não
perdeu completamente o seu domínio sobre ele. Não avançar é recuar, e se ele
não estiver firme no caminho do bem, pode cair novamente em mundos de expiação,
onde o esperam novas e mais terríveis provas. Contemplai, pois, durante a
noite, na hora do repouso e da prece, essa abóbada azulada, e entre as
inumeráveis esferas que brilham sobre as vossas cabeças, procurai as que levam a
Deus, e pedi que um mundo regenerador vos abrisse o seu seio, após a expiação
na Terra.
Maria Aparecida G.
Moro
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